11/23/2006

Entre flores


Pingámos,
rebolámos
e
prová-mo-
-nos,
entre flores.

Amanhecemos
gotas de orvalho,
nossos corpos
reacendidos.
Germinámos
a preto
a branco
ou a cores,
antes assim
que vendidos.

Pisada
seiva entardecida,
doce futuro
feito ferida,
o teu sangue quente
remanescente
sulcando o chão
vazando
vida.

Lambemo-nos
entre flores.

Sorvemos
de trago rumores,

resplandecemos
a nossa utilidade
ejaculante.

Chovemo-nos
em redondas gotas
de humores,

apodrecemos
no calor
sufocante,

a minha, a tua
propriedade
de amante.

e restámos.

um canto
varrido de dores,
secas palhas
de suores

tudo isto,
entre flores.






11/17/2006

O jantar de família.

Joana chegara atarefada. Rebolava-se aos encontrões pelas portas e pelos sacos bulímicos que vertiam, arrotavam presentes inúteis. A porta não segurava. Quem a convence agora da praticabilidade da arte nova? Joana era lágrima contida, depressão do natal encravada entre o frio da rua e o frio de dentro, daquele hall de imensa insignificância.
Joana pesara bem os prós daquela visita. Convinha-lhe aparecer decente e bem vestida, distribuir abraços meigos e beijar muito. Beijar sempre, quando já nada houvesse a dizer. Mas a luta resistente com a porta, aqueles dois segundos de dôr, de dedo indicador preso em fechadura de ferro, aquele conflito desaguava-lhe nos contras. Nos sucessivos e embaraçosos contras que alegremente tinha passado a ferro durante a semana. E dobrado cuidadosamente na gaveta do armário.
Porque Joana estava rigorosamente abstraída daquele 2º esquerdo de hesitações. Não lhe ligava, nem a ele nem ao recheio, à mais de um ano, exactamente àquela mesma hora daquele mesmo dia preso aos sacos e ao elevador fechado, a obrigar subir as escadas. Avós, pais, tios... maninho! Aqui está a vossa Joaninha de sempre, a corresponder aos altos e baixos dos vossos anseios, mais gorda sim, um pouquinho, mas também mais rica e cheia de docinhos e prendinhas patrocinadas pelo senhor director que é um exemplo de patrão e me deixou sair mais cedo, no dia 23, com o carro da empresa, a estourar o VISA em saudades vossas. Os meus.
Joana sabia onde ficava o interruptor. Sabia-o de pequena, aterrorizada com o avô a subir as escadas, a não poder carregar na luzinha de laranja, porque gasta e não é o teu pai que me paga o condomínio! Sentia-se a sede dessa menina de baloiço agora. Para recordar o avô que era bruto mas bom homem, ou para evitar o resto, o que se seguia. Soluçou para dentro proibições antigas, primeiros vícios, rodou os calcanhares e acendeu um cigarro. Sem mesmo largar os sacos. Ouviu ruídos, sussurros de velhice a saírem de caixinhas de fósforos. Adiava-se no escuro, apenas um ténue borrão de luz que se arde.
Antecipou o que a esperava. Uma casa cheia, preocupada. Móveis de salão, sala de estar, sala de jantar, ali sempre se souberam acomodar boas tradições. Ao jantar, os denodados esforços do avô para seguir direitinho, para ir buscar todos os dias ao mesmo escritório a mesmo prestação da casinha que um dia havia de estar paga. A ausência da avó, um simples espectro entre escravidões consentidas. Mas tudo em família, tudo muito conjugal. Joana entrou em vapores para a cozinha, escorregou o corredor abaixo e já ouvia os manos falarem o seu futebol, a mãe partilhar-se à irmã entre puxões de camisola, e o que restava do serviço de catering que é assim que se faz, numa família em que os velhos já não fazem nada.
Apagou-se. Ouvia o primo gritar, esconjurar os diabos do porto e as respectivas mães, as tias, e toda a prole que sobrasse. E Joana sossobrou perante o vinho a mais daquela ceia, dos efeitos que provocava, a apertar os presentes numa forma de T3 apertado. Recostou-se ao irmão, também caçado da sua vida para aquele compromisso, fez o favor de o resguardar como dantes. Um beijinho, como é que estás? Não, como é que tu estás? E foi-se com a beata que deitou pela porta que encravava.
A gloriosa carreira. O emprego generoso. Joana serviu-se de tudo para dar de pratada, de perú recheado, de tronco, filhoses e leite creme, de tudo o que à mãe lhe chegasse para considerar a ausência da filha justificável. Afinal, era dia de Natal! Mas Joana insistiu nas considerações, fez promessas nunca ouvidas. Pediu o mano ao telefone, como é que estás? Não, tu como é que estás? Beijinhos ao pai. A avó? Catatónica.
Sedada pela pressa de fugir. Injectada de um líquido que não conhecia. Uma substância nova nas suas ilusões, Joana era a verdade de um regresso a casa. O viver de um amor que ela só sentia quando ausente.

11/16/2006

O café.


O sítio em si, o local, o espaço, evoluiu. Nada permanece enclausurado numa redoma de vidro, de museu. Nem conserva a temperatura certa para preservar metais, cerâmica e essências perecíveis. Existe contudo, a eternidade dos balcões, atravessando as décadas sustendo os cotovelos de quem o toma, simples ou com cheirinho, lambuzados entre as bacantes, sujos, entornados, persistentes. Combinaram-se revoluções entre bagaços, o café existiu sempre como uma justificação. Para vingar alguém, para dentro de si tremer a conjurar, qual dos seus eus há-de matar, para com engenho, salvar o outro, o essencial. São maquiavélicos os cafés e é a sua audácia que nos reflecte, que nos escarra enquanto espelhos, a nossa rigorosa humanidade.
Entro ensopado. Deserto. Como eu, o café manifesta-se contrariado ao rigor do próprio dia. É a sua alma que se queixa, não os tijolos ou a telha, a argamassa, silenciosas e obedientes, como sempre. Percorro-lhe o vácuo de alcool, que se não cheirar, não é de um café que se trata. E sou o feitor da Casa da Índia, ou o armeiro, a feder, a mandar construir para matar, dez mil obuzes por dia. Amanso-me, rotundo. Torno-me humilde devagar, passo a passo. Desenterrei meia coroa do bolso e estendida, já é servil que implora: uma bica, por favor!
O encarregado já malhou o ferro contra o pau, já tortutou o que resta da união familiar dos bagos de café, esmigalhados, prendidos, separados de uma nascença já de si fingida, para a tortura faustosa do estomâgo. Fervam, abundantes. Borbulhem no vapor do que vos vamos dar em água fervida. Consumam-se que já vivos não estão. Quer cheia? Está louco!? Repare bem no fundo dos meus olhos. Se os consegue ver, aniquile-me uma curta. Já! Que por si não esperam os lápis, as aparas e os cadernos.
De entre os cheiros rola um novo perfume. De feira. De ontem num hoje não acordado, em directa para outro desespero. Abram-se alas. Ajoelhem-se ao orgulho de uma puta que ainda não dormiu. Prestem a vassalagem ao açucar dos naufragos da vossa pátria e deêm-lhe o descanso servido em chaveninha gorda e colher de casinha de bonecas. Toma. É o teu sonho de criança. Remexe o líquido, claro, tu não gostas do açucar todo, eu também não. Mas mexe bem o café. Eu respeito-te, e sei que és a sólida matéria de que se faz o império hoje. Uma cadeira para a senhora! E para mim, Romão, o jornal.
Circenses passos de mola, e era trapézio o chão molhado que me sustinha do balcão à mesa do canto. Sempre minha, se desocupada. Equilibrada na mão tremia a estátua do meu vício desmedido. A prometer borrar a pintura, chorando aos tremeliques que a deixassem fugir. Para os azulejos de bolinhas, para o tapete em réstia tornado. Para a sarjeta a poluir o mar. dali para fora, para qualquer lado.
Rossava as calças naquela verga artesanal, do que sobra simplesmente por sobrar do que éramos de facto. Colecciono o lugar, como pessoa. Como máscara de grego fingido antes de cristo, das sombras e dos cafés. É aquela que se senta ali, pronta a desafiar o jornal. Pronta a persistir o seu número de folhas, a analisar futuros com correcção de gralhas, a não perceber nada do índice de psi20, ou tão pouco, frustrante, como de kondratieff. De ondas, que sejam as que batem lá fora, com imaginação, contra os carros, inundando de lama os passeios.
A dor azeda das luzes apagadas a meio da tarde. Mousses de chocolate a reflectir a sua guloseima, tão quimérica, tão de pacote. A entristecerem papilas gustativas como a minha alma. Sou um mário parisiense a atravessar uma ponte até à sobremesa. Planeaste. Falhaste. O suícidio tresanda a espresso pedido no final de um destino prolongado de comboio. Plastificou-te e engordou-te. Faltou-te a angústia do Antero que ia pouco a cafés.
Saio. Já me ritualizei. Sou um ameríndio a voltar à vida activa, ao seu passeio recheado de bagas venenosas, que conhece de cor. E as saudades que te tenho duram apenas um amanhã de renascimento simbólico, quem sabe, medieval, proto, pré, histórico.
Não pertenço à tua geração dourada. Não me tens como geração sequer. Não fui estudante nos teus braços, os do meu tempo estão mais isolados. Não te consolidei poeticamente em algo de material como outros. Do teu negrume não me brotaram manifestos nem assassinatos. Foste sempre uma curva de caneta ao acaso violando toalhas, sem qualquer respeito. Nem tu, pela obra. Rasguei-te as pontas, incontáveis vezes. Deixei-te por pagar. Silenciei o meu tédio nos teus gostos, nos teus assuntos apenas. E sonhei com o teu passado. Com a vertigem com que desço no teu vácuo, mais fundo dentro de mim.

11/14/2006

Online.



falas, tens a presença adulterada,
és costas em cadeira recuada,
pavorosas pontas, afunilados dedos,
clicantes que não esperam.

Solenes passos tecnológicos,
avanços firmes.

gnoses de sapo anacoreta,
engordando calorias de asceta.

Nestes tempos de palavra,
luares fingidos,
teclados.
És vento sem pó,
receoso eléctrico,
parco sistema de afecto.

Saí de ti reciclada,
a verdade soletrada.
O grito de silêncio
que arremete,
na tua boca fechada,
as vocais de falsete.

Do que és em escuridão,
pena, dúbio sentido
de espera.
De ti ao mar,
a imensidão,
de um caminho flectido.
ilusão de matar
o que sobra,
em tua fonte,
a quimera.

11/12/2006

domingo


Resvalo adormecido da cama. Mal sonhado. Os olhos carregam todo o peso do corpo até ao lavatório de porcelana sem importância nenhuma. Corre àgua, reflecte o espelho as sombras convexas do eu que acordou hoje. Sem fuga possível.
Sacudo-me, espremo-me em sabão, pode ser que se lavar debaixo de mim surja eu livre de questões. O de ontem, com algum remédio e solução. Sou um pinóquio vestido e barbeado a pôr os pés fora de casa. Um menino do coro a enfrentar o frete da missa quando a sola toca os tapetes do carro. Infléxiveis, os estofos grudam-me mais ainda ao meu peso. A máquina já cruzou a rua e eu continuo esquecido a adormecer.
Reflectem-se rugas no retrovisor, passam consecutivamente como em todos os domingos, pulando a sua confiança pelos buracos da estrada. A minha estrada, o meu caminho. O tempo ameno, o frio que já não chega como costume e a solidão das palavras sintonizadas em stereo fm.
A velocidade varia no meu cérebro infractor. Estou contrário à corrente de gente que corre abocanhando o sol como em procissão de suícidio. Quanto mais brilhar mais mata. A minha miserável contribuição para os vossos passeios, o indivíduo que foi deposto, que deveria permanecer a dormir. Não, não vou aconselhar-te outro emprego. Não, não me incomoda o cheiro do teu prefume. E houve um cigarro que se acendeu sozinho e que se fumou a si próprio no cinzeiro em forma de caixão.
Melodias. Os pontos cardeais neste rádio a pilhas, a oceânia ou o pacífico. Vamos às Caraíbas. Não vamos que é longe. As mãos nos bolsos, a matemática das divisas. 3 euros e meio. Não, não vamos às Caraíbas. Vou devagar mas não me apercebo. Estou indiferente ao tempo escalonado, o incómodo para mim não se resolve sem trânsito, está resolvido a não se resolver hoje. Como uma chaga dominical. Apropriada.
Tchaikovsky, o baile da primavera. Queres que tire? A faixa 4 empolgante, galopante, asfixiante. Toca e não pares de tocar, sou um maestro louco numa redoma de vidro. Sou o vosso devaneio dos dias santos e arranco-vos sorrisos lambuzados e estridentes. Não é a música que vos toca, é o alucinado que durará os minutos da sua glória. Quatro e meio, mais coisa menos coisa.
Chegámos. Dou por mim a tropeçar em pintores desfigurados e sou a sua tela riscada ao acaso. Os modelos em fila, guardando poses de mármore, como já não se usa. Picasso é louco. hoje eu sou a sua loucura em papel. Invertida da realidade esquemática. A descosnstrução. Um baile de velhos, concubinos de outros velhos, celebrando a vida. Sou o copo que eles erguem ao alto, a miséria das suas vidas de que se não desprendem. Sou a coruja sem cabeça, as datas, todas invertidas. Sou a ansiedade de um domingo a mais. Um imprevisto cubista no tempo real. A consequência de um acordar cheio de sombras.

11/10/2006

passagem pelo absurdo.



A: pelo que esperas?

B: pelo amor.

A: Que pena.

B: Porquê?

A: Por momentos sonhei que esperasses GODOT.

B: Quem é esse?

A: Deus. e eu seria Beckett. Samuel.

B: Nome esquisito, Samuel... de qualquer das formas não acredito em deus.

A: Mas acrdeitas no amor.

B: Não sei. ele ainda não chegou.

A: Só acreditas quando o vires?

B: Disseram-me que era fácil de encontrar. bastava-me esperar para ele vir.

A: Então é ele que te encontra, não és tu que o procuras.

B: Tanto faz.

A: E que fazes?

B: Espero. E tu?

A: Procuro.

B: O quê?

A: Não sei.

B: Talvez esse tal de Samuel.

A: Não. esse já morreu.

B: Ainda à bocado pensavas que o eras.

A: E se-lo-ia se o esperasses.

B: A quem?

A: GODOT!

B: Talvez esse GODOT conheça o amor.

A: Se existir.

B: Também só acreditas quando vires?

A: Não sei. também não sei se é dele que ando à procura.

B: Bem esquisita essa tua indecisão.

A: Sim. Se comparada com a tua certeza.

B: Certeza de que?

A: De nada, pelos vistos.

B: Não me traz desilusão esperar.

A: E eu não me importo de procurar!

B: Então sai daqui que não és quem eu espero!

A: Com todo o prazer. que não és quem procuro.

PAUSA. A AFASTA-SE.

B: Espera. Tens lume?

A: Depende. Tens cigarros?

B: Não.

A: Então tenho.

B: Se eu tivesse cigarros não tinhas lume?

A: Não. Seria demasiado fácil.

11/08/2006

nicotina, a palavra mais feminina do mundo.

FUMAR PROVOCA O CANCRO PULMONAR MORTAL.
Ingere o teu alcatrão, o teu direito à ração de nicotina. tens mais 0,7% de hipóteses de estares morto antes de acabares esse cigarro.

FUMAR PREJUDICA O ESPERMA E PROVOCA IMPOTÊNCIA.
Que te importa isso a ti? Tu sabes que daqui a uns anos procriamos todos para uma máquina. Fazem-te colheitas de espermatozóides na pré-idade adulta. Fuma. Relaxa a tua morte devagar, em baforadas espessas.

SE ESTÁ GRÁVIDA, FUMAR PREJUDICA A SAÚDE DO SEU FILHO.
Tretas! Estás gorda, deprimida. Ninguém te deixa beber um copo para travares essa fonte de lágrimas que anuncia o parto. És uma pessoa, por amor de Deus! Não uma máquina de fazer filhos. Não te sacrificaste já o bastante? Compensa-te com esse justo cigarro!

ZOEK HULP OM TE STOPPEN MET ROKEN; RAADPLEEG UW ARTS OF APOTHEKER.
A mesma coisa em flamengo belga. A mesma perseguição. Como é que eles esperam que te concentres para atingires os objectivos que te exigem? Eles deixam-te parar de trabalhar porventura? Deixam ao teu critério produzires ou não? Esfrega o fósforo na caixinha. Inala. Deixa que a angústia te saia, misturada com o fumo.

O FUMO CONTÉM BENZENO, NITROSAMINAS, FORMALDEÍDO E CIANETO DE HIDROGÉNIO.
Mas por acaso tiraste o curso de quimíca? A sociedade que não te educa, que não te ensina o formaldeído, ainda ousa ameaçar-te com isso? Raios os partam! Sabes que o cianeto é mau porque te disseram que os alemães tomaram disso para não serem apanhados, depois de terem andado a roubar as bicicletas à Europa inteira. Pouco mais. E quantos benzenos e cianetos e nitrosaminas e merdas dessas não ingeres nas horas sagradas da fila de trânsito e dos passeios pela baixa? Ao menos que os toleres em companhia do teu cilindro de papel de arroz!

SE É JOVEM, NÃO COMECE A FUMAR.
Do género, "não arruine a sua vida, que nós tratamos disso por si". Conta o teu extracto bancário, as horas de trabalho agoniante, os anos a fio de desprazer a fazer o tédio dos outros. A proporcioná-lo. a eles, os que fumam "puros" porque podem. E que vão a Cuba ou ao Japão ou a Marte trocar os pulmões quando estão velhos. Conta os dias que passaste livre de carros, e de prédios, a beber àgua de nascentes e diz-me depois onde está a compensação para o cancro do pulmão.

AQUI ESTÁ O MAÇO. CUSTA 2.75€. NÓS ACONSELHAMO-LO A NÃO O LEVAR, MAS ISSO SERIA MUITO MAU PARA A NOSSA ECONOMIA. ENTÃO LEVE-O, POR SUA CONTA E RISCO. SE É UM PATRIOTA. OU UM GLOBAL DOS BONS, COMO NÓS. SE FOR ADOLESCENTE, NÃO SE ESQUEÇA QUE PODE CONTAR COM O SILÊNCIO DE TODOS OS DONOS DE BARES E CAFÉS. É PELO MELHOR, ESTÁ A VER? OS SEUS FUTUROS CUIDADOS DE SAÚDE, DARÃO EMPREGO A MUITOS PROFISSIONAIS E O VÍCIO ESTÁ CHEIO DE COISAS BOAS. PRINCIPALMENTE NOS TEMPOS QUE CORREM. JÁ VIU O AQUECIMENTO GLOBAL? AINDA MORREMOS TODOS ANTES DE TEMPO E VOCÊ NEM SEQUER FUMOU OS CIGARROS A QUE TINHA DIREITO. ISSO SE NENHUMA EPIDEMIA O VARRER PRIMEIRO. DE QUALQUER DAS FORMAS, MESMO QUE TUDO FOSSE CORRER BEM, E PARECE QUE NÃO VAI, O SENHOR PODE MUITO BEM SER COLHIDO POR UM AUTOCARRO, OU POR UM DESGOSTO DE AMOR, E AÍ, ACREDITE, NADA LHE VAI SABER MELHOR DO QUE ESSE ASSASSINO DE MÁ FAMA, QUE COMEÇA NOS TRÓPICOS, PERCORRE O MUNDO DOS DESENVOLVIDOS, E ACABA NA SUA BOCA, A MATÁ-LO. E OLHE QUE A SUA BOCA, NÃO É A ÚNICA QUE ELE ALIMENTA. AFINAL, TUDO MATA.

11/06/2006

vínculo vinícola.


quando deixamos de impor regras, deixamos de nos impor. aos outros e a nós próprios. e aí fluimos. e aí somos água. não sendo nós próprios. nós próprios a regra que impomos. aos outros e a nós próprios. que sem regra não sabemos quem somos. que decida a moeda ao ar. somos nós que a elevamos. não conta a sua decisão se proveio de seus amos. invadidos. trauteados. a nossa leve melancolia, a compor um sinfonia sem dar atenção ao fim. continua a tocar, continua a andar para a frente. a arrastares-te se preciso for. mas anda. sem levantar as mãos do que quer que seja. porque andando não te corrompes, não te comprometes contigo própriio. e solto quem sabe andarás mais fundo e mais denso entre todos os corpos e poços fundos ou não da terra. não te desprendas dessa missão. de não seres agora, em lado nenhum. é impossível se acreditares em coelhinhos da páscoa. não na páscoa em si. continua que diabo! não temas os atrasos, nem faças tempo de espera que é o pior tempo do mundo. o que existe em onda de guilhotina que desce e te rouba a carteira. faz-te surdo aos outros. não te oiças a ti próprio. expele-te qual jacto de tinta a aniquilar qualquer alvura. tens de dar cor. produzir cor que seja escuridão e brancura ao mesmo tempo. por acaso. por todos os acasos em que estás aqui e aos quais não prestaste ainda tributo. vamos! paga! ajoelha-te e prepara a pele para a pomada. vais deitar sangue que terás de esfergar do teu próprio chão. confuso. amnésico. sem parança. corre lava pelas letras que compoem o que não vês. e decompoem-te com piada. suga-te. espreme-te. e és todo sorrisos perante a liberdade de súbito concedida. experimentas mudança, desimposições. deixas de ver e passas a ser o que dantes vias. de acesso áquele deusinho que temes não sabes porquê. sê racional. e quando o és, és supersticioso da tua racionalidade. e já te vendeste a esse estigma. é a liberdade que não pára, que te prendeu a ela com cola super 3. escapa. evade-te. torna-te o boneco de BD que cava tuneis com colheres de sopa. escava bem. empresta-te da meticulosidade de alguém que não és tu. mas que pode estar lá dentro. aí dentro de ti. vigia as portas, controla o tempo. escava. és o mapa de ti próprio. foge. procura outro lugar. outra liberdade menos espaço. outra liberdade menos tempo. alguma que seja. alguma que se veja. alguma que prove que tu és. assim mesmo, sem arranjos.