4/27/2007

17:16 ou divagação II


Sou o solitário do terreiro do paço. O burguês, o janota do charuto. Ao longe não arde o seu borralho. De onde me tiram o retrato. Mas ele lá está, como eu, báculo que me esconde a penúria, a flatulência do arrogante oitocentista. O clap-clap do seu andar: ao café, para mais disfarces!

Sou a recolectora. A mãe de fibra que fica para trás. A amamentar, a cuidar. Sou a obediencia a rituais sagrados, consagrados a mãe mais mãe do que eu. Sou a fome da minha tribo, o que sangra do meu clã. No ventre albergo o futuro, nas mãos simples bagas de progresso.

Sou o décimo terceiro malmequer. O vicente que não pintou. Sou a natureza para lá de morta jazendo tinta fechada em frascos. Por misturar. Minha cor é uma corrente de passado.

Minha força a que lidera o exodo popular. Sabre na cintura, albornoz de ventos. Compensará a sede de vingança albanesa? A jura antiga de regar a solidão a sangue? Sou a calma mantida no cortejo, um pequeno embaraço de tradição.

Sou o eixo circular, a cegueira de anos à luz das velas. Calculando, desenhando. Calculando, desenhando. Um homem nomenclatura carnívoro, poeta de oceanos disputados pelo instinto e pela ciência.

Sou a filosofia so século XX. A estética teatral quando o teatro se lutava na andaluzia à espada. Ao martelo e ao bijagóz. Sou o estranho estrangeiro de si a copiar iluminuras, ao serviço de Dom Manuel, que há que tornar célebre tanto homem como obra.

Sou uma vitima de feudalismo tradicional. Dízimos e foros por cobrar. Sou umas calças de ganga a precisarem de ser lavadas com urgências indígenas e ameríndias. Soro fisiológico: sou a última oportunidade Russeliana do Homem. A conspurcação do leonardo. O fetiche do sade(ico) a ligar cabos de HP all-in-one scanner impressora copiadora.

Magritte que desenhaste tu antes de lá pores uma maçã? Sou esse mistério pujante e uma encadernação dramática de história de arte à antiga italiana. Sou uma dívida ao hospital Curry cabral.

Sou um gatafunho em moleskine, um rossio antes do terramoto. Campos de oliveiras e sobreiros em cima do el corte inglês. Sou um mandarim chinês. Sabem bem a quem me refiro, uma fortuna herdada sem maquiavelismos e desditas românticas.

Sou a ciência ao serviço dos não cientistas. Esclarecimentos vários. Sou a verga do caixote a abarrotar seus papéis e seus caroços.

Onde estavas com a cabelça Almada para te esqueceres do chapéu? Que seja teu que interessa? Onde estás não lhe dás uso e eu sou também essa farsa.

Sou uma bela biografia. Cabide, camisa, fato de cerimónia. Todos os protocolos para receber Dali condignamente. Com um pente para bigodes. E muita atenção aos sonhos quando o sonho da subsistência simples se concretizar. Se desenjaular.

Trilobite, trilobite, trilobita por favor.
Maconde, macondinho, sobrevive por favor.

Sou a substância fechada de um espaço confuso de paredes amplas.

Sou diálogo, quimera e tampas de compota por enroscar. Que seria da pessoa do fernando se não fosse a inquietação? Que seria de vós todos sem o fenómeno da negação?

Cortiça, exportação. Sou também esse chão.

Ãu, ãu, ãu

Sou o óscar, o meu cão.

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